terça-feira, 14 de julho de 2009

Acordando para um pesadelo

"A vida é um jogo. Ganhar ou perder são meras partes do processo. Nada, absolutamente nada é importante, exceto jogar. Neste exato momento, em algum lugar do mundo, está posto o tabuleiro. Senhoras e senhores: façam suas apostas!"


Em um quarto, JOSÉ acorda. Está deitado em uma cama de solteiro, virado para cima. Abre lentamente os olhos. Sente-se mal, como alguém que está de ressaca. Sente dores. Leva as mãos à cabeça, por causa da dor. Olha para os lados.

O quarto é simples, sem muita decoração. Possui um banheiro. Tem aspecto semelhante a um quarto de hotel, mas não há nenhum item que o caracterize como tal.

Levanta-se devagar. Olha ao redor mas não sabe onde está. Está confuso.

Tenta levantar-se, mas a cabeça dói mais. Fica sentado na cama, com as mãos na cabeça, os cotovelos apoiando-se nos joelhos. Sua mente busca respostas...

"Onde estou? Quem sou eu? O que aconteceu comigo? Porque sinto tanta dor?"

Em algum outro lugar do mundo um grupo de olhares o observa. É uma sala de controle. Tem muitos monitores de vídeo e computadores. Ouve-se RUÍDOS de teclados sendo digitados, bips, telefones e grande movimentação. Mais acima uma sala despojada, com poltronas confortáveis e aconchegantes serve como observatório de tudo o que acontece no lugar.

Os monitores de vídeo possuem imagens de lugares e pessoas. As telas dos computadores sugerem funções de monitoramento e espionagem. Os monitores principais mostram ângulos diferentes do quarto de José.

Em um dos computadores está a imagem de José no quarto, e sobreposta a ela várias informações sobre seus sinais vitais. Em outro computador está a imagem de um mapa. Dois pontos de cores diferentes piscam, ambos distantes entre si. Um deles se movimenta pelo mapa e outro está parado.

- Está na hora, faça-o sair do quarto.

Em um dos computadores é digitado um comando: "ATIVAR". Na tela aparece a mensagem: "CONFIRMA ATIVAÇÃO?". Resposta afirmativa.

SOM DE MODEM em comunicação. José sente sua dor de cabeça tornar-se insuportável. Cai no chão, gemendo, em posição fetal, com as mãos na cabeça.

No computador é dado o comando: "ENVIAR COORDENADAS".

- X -

José está no chão. Sua dor de cabeça diminui de intensidade. Levanta-se lentamente, a muito custo. SAI para o BANHEIRO.

ENTRA, olha-se no espelho tentando se reconhecer, lembrar algo. Acaricia o próprio rosto, como se fosse ele mesmo um estranho. Está suado, pálido. A cabeça dói intermitentemente.

A cabeça volta a doer violentamente, insuportável. José entra em desespero. Como alguém que tenta fugir da dor, SAI rapidamente para o QUARTO.

José cai de joelhos, com as mãos na cabeça. Olha para a porta. A porta cresce em importância. José pede ajuda.

- Mas o que é isto? O que está acontecendo comigo?

Mas quem ali poderia ouvi-lo? Grita de dor. Levanta-se e corre em desespero para a porta. SAI.

José corre pela cidade em velocidade absurdamente alta, muito superior inclusive a dos automóveis. Na sala de controle os monitores de vídeo e computadores acompanham sua movimentação. Em um mapa, dois pontos coloridos podem ser observados. Um deles, que a pouco estava em movimento, agora se encontra parado. O outro agora se movimenta, indo na direção do primeiro.

O destino é um galpão abandonado, longe da cidade. José não consegue parar, e choca-se em alta velocidade com uma pilha de lixo. Levanta-se. ainda sente dores na cabeça e no corpo. Olha para o galpão. Algo ali o impressiona, chama a sua atenção. Dirige-se para dentro.

Entra, cambaleante. Cai de joelhos, sentindo muita dor de cabeça. No lado oposto à porta de entrada está OPONENTE, sentado com o rosto voltado para o chão.

- Estava te esperando. Por que demorou?

Hergue-se devagar, com firmeza. Enquanto levanta-se, encara José: um olhar de fúria e superioridade, pedindo sangue.

- Quem é você? Porque estamos aqui?

Oponente se teletransporta para onde está José. Dá um chute tão forte que este bate violentamente contra a parede. Oponente vai até ele e o levanta pelo pescoço. Joga-o contra a parede do outro lado.

José se levanta, lentamente, mas com raiva. Põe-se em posição de luta. Suas mãos começam a brilhar. Faz um movimento e solta uma bola de energia na direção de Oponente, que é atingido e jogado contra a parede.

José se assusta com seus poderes, sem saber como fez aquilo. Oponente levanta-se. José corre em alta velocidade em sua direção.

Oponente se teletransporta e intercepta José no caminho, derrubando-o. Ambos se envolvem em uma luta corporal.

- O que você quer? Porque estamos nos destruindo?
- Saber não vai mudar nada. Quem você é, o seu passado, nada disso tem mais importância. A sua vida agora se resume a matar e morrer!

José joga Oponente contra a parede. Está confuso e desesperado. Não quer acreditar. Seu corpo vai se iluminando lentamente, formando uma aura de energia ao redor. Está em desespero.

- Não! Não pode ser!É mentiraaaa!

José faz um movimento. Toda a energia que se formou é concentrada em um raio que vai na direção de Oponente, fulminando-o. José cai de joelhos.

José percebe que matou Oponente. Faz que vai até o corpo, mas permanece onde está.

- Não! Nãããããããooooooo!!!!!!!!!!

José chora.

Na sala de controle os monitores principais mostram José. Em um dos computadores a mensagem: "OPONENTE ANIQUILADO. FIM DO JOGO". Em outro computador a imagem de José, com gráficos sobrepostos indicando seus sinais vitais. Em outro, a imagem de Oponente, com gráficos sobrepostos indicando sua morte.

- Ele é forte demais. O que vai fazer se sair do controle?
- Apenas me pague o que deve!
- Essa coisa de acrescentar sempre mais energia está ficando perigoso. Algum dia não conseguiremos mais evitar as vidas inocentes.

A resposta é uma risada sarcástica, sonora e demorada.

"Há muitos tipos de jogos, mas os jogos emocionantes sempre têm um lado que ganha e outro que perde. O vencedor ganha a glória. O perdedor herda o ônus da queda".

Texto de Samuel Hermínio

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